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terça-feira, 17 de setembro de 2013

O capital: Compra e venda da força de trabalho

Capítulo IV
Item 3 – Compra e venda da força de trabalho:
A mudança do valor do dinheiro não pode ocorrer no próprio dinheiro  (D-D´).
Tampouco pode ocorrer no ato da circulação (D-M-D´), uma vez que o dinheiro é trocado por mercadoria do mesmo valor e depois a mercadoria é trocada pelo mesmo valor em dinheiro.
O proprietário do dinheiro deve descobrir uma mercadoria que ao se consumir produz valor.
O trabalho é a única fonte de valor das mercadorias. O capitalista precisa, portanto, encontrar no mercado uma mercadoria que, ao se consumir, produza trabalho.
Esta mercadoria é a força de trabalho.
Por força de trabalho ou capacidade de trabalho compreendemos o conjunto de faculdades físicas e mentais, existente no corpo e na personalidade viva de um ser humano, as quais ele põe em ação toda a vez que produz valores de uso de qualquer espécie”.
Condições para que o capitalista encontre a força de trabalho como mercadoria:
1.           O trabalhador tem que ser proprietário da sua força de trabalho. É necessário, portanto, que ele seja um homem livre, que não seja propriedade de outro homem (escravo) ou que esteja vinculado a um determinado meio de produção (a terra, sistema feudal).
2.           Como em toda troca mercantil, o capitalista precisa reconhecer o trabalhador como proprietário de uma mercadoria que lhe interessa e que o reconheça como um  igual/proprietário, diferenciando-se apenas por um ser comprador (capitalista) e o outro vendedor (trabalhador). Identidade jurídica/contrato.
3.           O trabalhador deve apenas vender a sua força de trabalho por tempo determinado. Caso venda sua força por tempo indeterminado, o trabalhador não vende a sua força de trabalho, mas vende a si mesmo ao capitalista.


4.           Como qualquer mercadoria, a força de trabalho só pode ser vendida caso seja um  não-valor-de-uso para seu proprietário. Isto quer dizer, o trabalhador não pode ter onde utilizar sua força de trabalho devendo vende-la ao capitalista. Nestas condições, é necessário que o trabalhador não seja proprietário de meios de produção. Caso contrário, aplicará sua energia em tais meios para produzir valores de uso e mercadorias e não  venderá sua força de trabalho ao capitalista.
5.           Assim, “para transformar dinheiro em capital tem o possuidor do dinheiro de encontrar  o trabalhador livre no mercado de mercadorias, livre nos dois sentidos, o de dispor como pessoa livre de sua força de trabalho como sua mercadoria, e o de estar livre, inteiramente despojado de todas as coisas necessárias à materialização de sua força de trabalho, não tendo além desta outra mercadoria para vender”

Estas condições não são naturais, porém são historicamente construídas: “A natureza não produz, de um lado, possuidores de dinheiro ou de mercadorias, e, do outro, meros possuidores de força de trabalho”. A força de trabalho como mercadoria só aparece no sistema capitalista.

COMO SE DETERMINA O VALOR DA FORÇA DE TRABALHO:

“O valor da força de trabalho é determinado como o de qualquer outra mercadoria, pelo tempo de trabalho necessário à sua produção e, por conseqüência, a sua reprodução”
Ou
“Enquanto valor, a força de trabalho representa apenas determinada quantidade de trabalho social médio nela corporificado”.
Pois, para manter-se o indivíduo necessita de uma certa quantidade de meios de subsistência, daí que
“O tempo de trabalho necessário à produção da força de trabalho reduz-se, portanto, ao tempo de trabalho necessário à produção desses meios de subsistência, ou o valor da força de trabalho é o valor dos meios de subsistência necessários à manutenção de seu possuidor.”

As necessidades de manutenção do trabalhador, mesmo as naturais (alimentação, moradia, vestuário, etc.) variam de acordo com as condições climáticas e histórico-culturais.

Como toda mercadoria, a força de trabalho tem que ser reposta quando desgastada ou quebrada. Assim, no cálculo do valor da força de trabalho deve estar presente não só a manutenção do próprio trabalhador, mas também daqueles que um dia o substituirão.

Da mesma forma, os meios de subsistência gastos durante a produção da força de trabalho (tempo de formação de uma força de trabalho especializada, por exemplo) também entram no computo do valor da força de trabalho completa.

Os meios de subsistência podem ser consumidos diariamente (alimentos), em prazos relativamente maiores (roupas) ou ainda mais dilatados (móveis, eletrodomésticos, moradia, etc...).

Para avaliar o valor de uma jornada de trabalho diária, devemos considerar a quantidade de cada um desses bens que são consumidos ao longo de um dia.

                            365 X alimentos        +        12 X aluguel        +         4 X roupas       +       12 X crediário
                                                                                                       365

Esses são os bens necessários à sobrevivência diária de um trabalhador que trabalhará oito horas por dia. No entanto, o tempo de trabalho médio, socialmente necessário para produzir estes bens em uma determinada sociedade é de 4 horas. O valor da força de trabalho diária é 4 horas. Supondo que o valor equivalente de uma mercadoria de 4 horas seja  R$ 30 reais, então este será o valor diário da força de trabalho, ou seja, o salário do trabalhador.

“É sentimentalismo barato considerar esse método de determinar o valor da força de trabalho, método que decorre da natureza do fenômeno”, pois, conforme Sismondi   “a capacidade de trabalho nada é se não se vende”.

O trabalhador entrega adiantado sua força de trabalho ao capitalista.
O processo de consumo da força de trabalho é ao mesmo tempo o processo de produção de mercadoria e de valor excedente (mais –valia)

Saímos do campo da circulação. Agora trabalhadores e capitalistas encontram-se diante de uma igualdade formal, jurídica. São livres proprietários de mercadorias, dinheiro e força de trabalho e trocam equivalente por equivalente.
Mas a coincidência termina aí: “O mistério da criação do valor excedente (mais-valia) se desfará finalmente”

O dono do dinheiro torna-se capitalista:

“O antigo dono do dinheiro marcha agora à frente como capitalista; segue-o o proprietário da força de trabalho como seu trabalhador. O primeiro, com um ar importante, sorriso velhaco e ávido de negócios; o segundo tímido, contrafeito, como alguém que vendeu a sua própria pele e espera apenas ser esfolado”.

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