CAPÍTULO V - PROCESSO DE TRABALHO E
PROCESSO DE
PRODUZIR MAIS-VALIA
1.
O
Processo de Trabalho ou o Processo de Produzir valores-de-uso:
A
utilização da força de trabalho é o próprio trabalho
O
comprador (capitalista) da força de
trabalho a consome fazendo o vendedor (trabalhador) trabalhar.
O
comprador da força de trabalho determina ao trabalhador de que forma ela será
empregada, ou seja, qual valor-de-uso será produzido.
A
produção de valores-de-uso não tem sua natureza alterada pelo fato de se
realizar sob o comando de um capitalista.
Por
isso é preciso, antes de mais nada, conhecer o processo de trabalho
independentemente da estrutura social em que se realize.
O
trabalho é um processo em que participam homem e natureza. Põe em movimento
suas forças naturais a fim de apropriar-se dos recursos da natureza
imprimindo-lhes forma útil às necessidades humanas.
Agindo
desta forma, o homem transforma a natureza e transforma a si mesmo.
Não
são formas instintivas de trabalho que mencionamos aqui
O
trabalho do pior arquiteto é sempre superior ao da melhor abelha.
O
trabalho humano é previamente ideado, ou seja, o objetivo a ser alcançado já se
encontra na mente do trabalhador antes de sua execução.
Além
do esforço físico, para realização do trabalho, é preciso, também que haja vontade por parte do trabalhador.
Os
componentes do processo de trabalho são: 1) atividade adequada a um fim, isto é, o
próprio trabalho. 2) o objeto de trabalho, ou a matéria à qual se aplica o
trabalho e 3) os meio de trabalho, os instrumentos utilizados.
Matéria-prima: é o objeto de trabalho que já passou por
algum processo de trabalho. Toda matéria-prima é objeto de trabalho, mas nem
todo objeto de trabalho é matéria-prima.
Meios
de trabalho são os objetos que os homens colocam entre ele e a natureza no
processo de trabalho. O homem faz de
algum elemento da natureza a continuação de seu corpo. A terra é o arsenal
natural dos meios de trabalho.
A
utilização de meios de trabalho é uma característica essencialmente humana.
Os
meios de trabalho caracterizam mais uma [época humana do que os objetos
produzidos.
São
meios de trabalho todas as coisas empregadas na produção, ainda que de forma
indireta .
“No processo de trabalho, a
atividade do homem opera uma transformação, subordinada a um determinado fim,
sobre o objeto em que atua por meio do instrumental de trabalho. O processo
extingue-se ao concluir-se o produto. O produto é um valor-de-uso, um material
da natureza adaptado às necessidades humanas através da mudança de forma.O
trabalho está incorporado ao objeto sobre o qual atuou.”
Trabalho
produtivo: objeto de trabalho e meios de trabalho são meios de produção
e o trabalho, trabalho produtivo.
Nota
7: “Esta conceituação de trabalho
produtivo, derivada apenas do processo de trabalho, não é de modo nenhum
adequada ao processo de produção capitalista”
Com
exceção da indústria extrativa, todas demais atividades produtivas utilizam
matérias-primas.
As
matérias primas podem entrar direta ou indiretamente na produção, mas toda
diferença desaparece assim que o trabalho se realiza.
Um
valor-de-uso pode ser matéria-prima, meio de trabalho ou produto, dependendo da
condição que esteja na produção. O produto de uma atividade pode entrar em um
processo seguinte como matéria-prima (objeto de trabalho) ou como meio de
trabalho.
O
trabalhador trabalha sob controle do capitalista. A ele pertencem os meios de
produção (matérias-primas e meios de trabalho) e também, necessariamente, o
produto final.
O
capitalista paga ao trabalhador o valor de sua força de trabalho e se apropria
do trabalho realizado.
O Processo de Produzir mais
valia: um exemplo.
Imaginemos
uma confecção
Meios
de Produção: Instalações............ 10.000 reais
Máquinas
.................5.000 reais (máquina
de 300 mil, financiada em 60 meses)
Tecidos
..................40.000 reais
Energia
....................3.000 reais
Total........................58.000
reais (preço de 1.000 peças)
Força
de Trabalho (massa
salarial)..............22.000 reais
(salário médio de 20 trabalhadores)
Meios
de Produção + Força de Trabalho ....80.000 reais (preço de 1.000 peças)
Valor
dos Meios de Produção por peça.......58,00 reais
Valor
da Força de Trabalho por peça...........22,00 reais
Preço
Unitário.............................................80, 00 reais
O
capitalista pensa: “eu preciso ter um
lucro”,” eu investi meu capital nesta fábrica”,” eu dei empregos para estes
miseráveis”,” eu administro a fábrica (também sou um trabalhador)”, “ assim como
o trabalho, o capital deve ser remunerado”
e outras coisas do gênero. Então, eu posso trabalhar com uma margem de
100% de lucro. O produto final passará a custar 160,00 reais, assim
distribuídos
Meios
de produção ......58,00
Força
de Trabalho..........22,00
Lucro.............................
80,00
Preço
total....................160,00.
Mas, se isso fosse verdadeiro, teríamos que
admitir que o lucro nasce no final do processo, na comercialização (circulação)
da mercadoria. E isto, já vimos, não, é verdadeiro. Então, de onde vem o lucro?
O
lucro não vem da “vontade” do capitalista. Ele pode até não saber, mas o valor
do seu produto não é estabelecido pela sua vontade ou pelo que ele acha justo.
Se o seu produto chega ao consumidor por 160,00 reais e é comprado, então este
é seu valor real socialmente estabelecido. Ou seja, os 80,00 se transformaram
de fato em 160,00 reais. Como se deu esta transformação.
Já
vimos que os meios de produção apenas repassam valor para o produto final:
58.000 reais utilizados para produzir mil peças passarão 58,00 reais para cada
peça, nem um centavo a mais. A este capital investido chamamos de Capital
Constante. Constante exatamente porque
não altera seu valor durante a produção.
Vejamos
o que acontece com a força de trabalho:
Durante
o processo de produção, o trabalhador transforma instalações, máquinas,
tecidos, energia em calças jeans. Pelo trabalho já realizado (trabalho morto )
para a produção destes valores-de-uso, o
capitalista já dispendeu a quantidade de 58.000 reais. Ou seja, o tempo de
trabalho socialmente necessário para a produção dos meios de produção, já está
pago. Este trabalho morto não gera nenhum lucro para o nosso capitalista
(embora tenha gerado, enquanto trabalho vivo
para os capitalistas que venderam o tecido, as máquinas, a energia e as
instalações).
A
este tempo de trabalho (morto) nosso trabalhador incorpora uma nova quantidade
de trabalho (vivo) para transformar os meios de produção (tecido, máquinas,
etc.) em novos valores-de-uso (jeans) para serem levados ao mercado. Esta nova
quantidade de trabalho adicionada aos meios de produção é que permite o
acréscimo do valor da mercadoria:
Trabalho
morto (meios de produção).......... 58.000 reais
Trabalho
morto + trabalho vivo ..................160.000 reais
Este
diferencial de 102.000 reais
corresponde ao tempo de trabalho necessário para transformar os meios de produção na mercadoria final. Sem
o trabalho vivo, os meios de produção não se tornariam mercadorias e nenhuma
riqueza seria incorporada ao seu valor inicial. O aumento do valor do produto
de 58.000 para 160.000, portanto, não obedece a uma subjetividade do
capitalista, mas sim a uma ordenação social muito objetiva. O capitalista
atinado percebe que estabelecendo um valor maior para seu produto não
conseguirá vendê-lo, da mesma forma que, estabelecendo um valor menor, estará
perdendo dinheiro. Ele faz isso mesmo que não tenha lido uma única linha de O
Capital, ou acredite piamente nas “leis econômicas” acima mencionadas.
Observe
que estes 102 mil reais não formam o lucro do capitalista. Para ter mãos e
braços dos trabalhadores transformando suas mercadorias, o capitalista precisa
adquirir a energia que movimenta estas mãos e braços.
O
valor desta energia (força de trabalho) é dado pelo tempo de trabalho
necessário para produzi-la e reproduzi-la. Ou seja, o valor da força de
trabalho corresponde ao valor dos bens de consumo necessários à sobrevivência
do trabalhador durante uma jornada de trabalho. Quando afirmamos que a massa
salarial de nossa empresa é de 22.000 reais por mês e que temos 20
trabalhadores, isto significa um salário médio de 1.100 reais para cada
trabalhador. Com estes 1.100 reais, o trabalhador deverá assegurar a manutenção
e a reprodução de sua força de trabalho, através da compra de bens necessários
para isso (alimentação, moradia, vestuário, transporte, lazer, educação).
É
esta massa salarial (22.000 reais) que se converte em 102.000 reais, que
somados aos 58.000 gastos com meios de produção, produzem o valor final de
160.000 (mil peças de 160 reais).
O
capital que o capitalista usa para pagar a força de trabalho chama-se Capital
Variável exatamente porque seu valor
se altera no processo de produção. Assim:
Capital Constante.......................meios
de produção...................não gera nenhum valor a mais
Capital Variável........................força
de trabalho........................gera mais-valia para o capitalista
A
mais-valia é gerada única e exclusivamente pelo capital variável. Isto porque,
a força de trabalho, ao ser utilizada, gera mais do que seu próprio valor, ela
gera um excedente. Isto pode ser facilmente comprovado pela quantidade de
riquezas acumuladas pela humanidade. Se os homens não fossem capazes de
produzir excedentes, consumiriam todo
produzido e não poderia a humanidade ter acumulado seu patrimônio. Este valor
excedente pertence não ao trabalhador, mas ao capitalista que comprou a força
de trabalho. Uma vez vendida ao capitalista, compete a este dizer de que forma
ela será utilizada.
A
mais valia gerada na produção da mercadoria é partilhada pelo capitalista
industrial com os demais segmentos da ordem do capital: capital comercial,
capital financeiro, governo, etc... para assegurar a perpetuação da ordem
capitalista.
Fonte:
MARX, K. Processo de trabalho e Processo de produzir mais-valia. O Capital, cap. 5. Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital-v1/vol1cap07.htm. Acesso em 17 de set. 2013.
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