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terça-feira, 17 de setembro de 2013

O capital: Processo de trabalho e Processo de produzir mais-valia

CAPÍTULO V  -   PROCESSO DE TRABALHO E
                            PROCESSO DE PRODUZIR MAIS-VALIA

 1.           O  Processo de Trabalho ou o Processo de Produzir valores-de-uso:
A utilização da força de trabalho é o próprio trabalho
O comprador  (capitalista) da força de trabalho a consome fazendo o vendedor (trabalhador) trabalhar.
O comprador da força de trabalho determina ao trabalhador de que forma ela será empregada, ou seja, qual valor-de-uso será produzido.
A produção de valores-de-uso não tem sua natureza alterada pelo fato de se realizar sob o comando de um capitalista.
Por isso é preciso, antes de mais nada, conhecer o processo de trabalho independentemente da estrutura social em que se realize.
O trabalho é um processo em que participam homem e natureza. Põe em movimento suas forças naturais a fim de apropriar-se dos recursos da natureza imprimindo-lhes forma útil às necessidades humanas.
Agindo desta forma, o homem transforma a natureza e transforma a si mesmo.
Não são formas instintivas de trabalho que mencionamos aqui
O trabalho do pior arquiteto é sempre superior ao da melhor abelha.
O trabalho humano é previamente ideado, ou seja, o objetivo a ser alcançado já se encontra na mente do trabalhador antes de sua execução.
Além do esforço físico, para realização do trabalho, é preciso, também  que haja vontade por parte do trabalhador.
Os componentes do processo de trabalho são:  1) atividade adequada a um fim, isto é, o próprio trabalho. 2) o objeto de trabalho, ou a matéria à qual se aplica o trabalho e 3) os meio de trabalho, os instrumentos utilizados.


Matéria-prima:  é o objeto de trabalho que já passou por algum processo de trabalho. Toda matéria-prima é objeto de trabalho, mas nem todo objeto de trabalho é matéria-prima.
Meios de trabalho são os objetos que os homens colocam entre ele e a natureza no processo de trabalho.  O homem faz de algum elemento da natureza a continuação de seu corpo. A terra é o arsenal natural dos meios de trabalho.
A utilização de meios de trabalho é uma característica essencialmente humana.
Os meios de trabalho caracterizam mais uma [época humana do que os objetos produzidos.
São meios de trabalho todas as coisas empregadas na produção, ainda que de forma indireta .
“No processo de trabalho, a atividade do homem opera uma transformação, subordinada a um determinado fim, sobre o objeto em que atua por meio do instrumental de trabalho. O processo extingue-se ao concluir-se o produto. O produto é um valor-de-uso, um material da natureza adaptado às necessidades humanas através da mudança de forma.O trabalho está incorporado ao objeto sobre o qual atuou.”
Trabalho produtivo: objeto de trabalho e meios de trabalho são meios de produção e o trabalho, trabalho produtivo.
Nota 7: “Esta conceituação de trabalho produtivo, derivada apenas do processo de trabalho, não é de modo nenhum adequada ao processo de produção capitalista”
Com exceção da indústria extrativa, todas demais atividades produtivas utilizam matérias-primas.
As matérias primas podem entrar direta ou indiretamente na produção, mas toda diferença desaparece assim que o trabalho se realiza.
Um valor-de-uso pode ser matéria-prima, meio de trabalho ou produto, dependendo da condição que esteja na produção. O produto de uma atividade pode entrar em um processo seguinte como matéria-prima (objeto de trabalho) ou como meio de trabalho.
O trabalhador trabalha sob controle do capitalista. A ele pertencem os meios de produção (matérias-primas e meios de trabalho) e também, necessariamente, o produto final.
O capitalista paga ao trabalhador o valor de sua força de trabalho e se apropria do trabalho realizado.

O Processo de Produzir mais valia: um exemplo.


Imaginemos uma confecção
Meios de Produção:            Instalações............ 10.000 reais
                                   Máquinas .................5.000 reais   (máquina de 300 mil, financiada em 60 meses)
                                   Tecidos ..................40.000 reais
                                   Energia ....................3.000 reais
                                   Total........................58.000 reais   (preço de 1.000 peças)

Força de Trabalho  (massa salarial)..............22.000 reais   (salário médio de 20 trabalhadores)
Meios de Produção + Força de Trabalho ....80.000 reais  (preço de 1.000 peças)


Valor dos Meios de Produção por peça.......58,00 reais
Valor da Força de Trabalho por peça...........22,00 reais
Preço Unitário.............................................80, 00 reais
O capitalista pensa:     “eu preciso ter um lucro”,” eu investi meu capital nesta fábrica”,” eu dei empregos para estes miseráveis”,” eu administro a fábrica (também sou um trabalhador)”, “ assim como o trabalho, o capital deve ser remunerado”      e outras coisas do gênero. Então, eu posso trabalhar com uma margem de 100% de lucro. O produto final passará a custar 160,00 reais, assim distribuídos

Meios de produção  ......58,00
Força de Trabalho..........22,00
Lucro............................. 80,00
Preço total....................160,00.

 Mas, se isso fosse verdadeiro, teríamos que admitir que o lucro nasce no final do processo, na comercialização (circulação) da mercadoria. E isto, já vimos, não, é verdadeiro. Então, de onde vem o lucro?
O lucro não vem da “vontade” do capitalista. Ele pode até não saber, mas o valor do seu produto não é estabelecido pela sua vontade ou pelo que ele acha justo. Se o seu produto chega ao consumidor por 160,00 reais e é comprado, então este é seu valor real socialmente estabelecido. Ou seja, os 80,00 se transformaram de fato em 160,00 reais. Como se deu esta transformação.
Já vimos que os meios de produção apenas repassam valor para o produto final: 58.000 reais utilizados para produzir mil peças passarão 58,00 reais para cada peça, nem um centavo a mais. A este capital investido chamamos de Capital Constante.   Constante exatamente porque não altera seu valor durante a produção.
Vejamos o que acontece com a força de trabalho:
Durante o processo de produção, o trabalhador transforma instalações, máquinas, tecidos, energia em calças jeans. Pelo trabalho já realizado (trabalho morto ) para a produção destes valores-de-uso,  o capitalista já dispendeu a quantidade de 58.000 reais. Ou seja, o tempo de trabalho socialmente necessário para a produção dos meios de produção, já está pago. Este trabalho morto não gera nenhum lucro para o nosso capitalista (embora tenha gerado, enquanto trabalho vivo  para os capitalistas que venderam o tecido, as máquinas, a energia e as instalações).
A este tempo de trabalho (morto) nosso trabalhador incorpora uma nova quantidade de trabalho (vivo) para transformar os meios de produção (tecido, máquinas, etc.) em novos valores-de-uso (jeans) para serem levados ao mercado. Esta nova quantidade de trabalho adicionada aos meios de produção é que permite o acréscimo do valor da mercadoria:
Trabalho morto (meios de produção).......... 58.000 reais
Trabalho morto + trabalho vivo ..................160.000 reais
Este diferencial de   102.000 reais corresponde ao tempo de trabalho necessário para transformar  os meios de produção na mercadoria final. Sem o trabalho vivo, os meios de produção não se tornariam mercadorias e nenhuma riqueza seria incorporada ao seu valor inicial. O aumento do valor do produto de 58.000 para 160.000, portanto, não obedece a uma subjetividade do capitalista, mas sim a uma ordenação social muito objetiva. O capitalista atinado percebe que estabelecendo um valor maior para seu produto não conseguirá vendê-lo, da mesma forma que, estabelecendo um valor menor, estará perdendo dinheiro. Ele faz isso mesmo que não tenha lido uma única linha de O Capital, ou acredite piamente nas “leis econômicas” acima mencionadas.
Observe que estes 102 mil reais não formam o lucro do capitalista. Para ter mãos e braços dos trabalhadores transformando suas mercadorias, o capitalista precisa adquirir a energia que movimenta estas mãos e braços.
O valor desta energia (força de trabalho) é dado pelo tempo de trabalho necessário para produzi-la e reproduzi-la. Ou seja, o valor da força de trabalho corresponde ao valor dos bens de consumo necessários à sobrevivência do trabalhador durante uma jornada de trabalho. Quando afirmamos que a massa salarial de nossa empresa é de 22.000 reais por mês e que temos 20 trabalhadores, isto significa um salário médio de 1.100 reais para cada trabalhador. Com estes 1.100 reais, o trabalhador deverá assegurar a manutenção e a reprodução de sua força de trabalho, através da compra de bens necessários para isso (alimentação, moradia, vestuário, transporte, lazer, educação).
É esta massa salarial (22.000 reais) que se converte em 102.000 reais, que somados aos 58.000 gastos com meios de produção, produzem o valor final de 160.000 (mil peças de 160 reais).


O capital que o capitalista usa para pagar a força de trabalho chama-se Capital Variável  exatamente porque seu valor se altera no processo de produção. Assim:
Capital Constante.......................meios de produção...................não gera nenhum valor a mais
Capital Variável........................força de trabalho........................gera mais-valia para o capitalista
A mais-valia é gerada única e exclusivamente pelo capital variável. Isto porque, a força de trabalho, ao ser utilizada, gera mais do que seu próprio valor, ela gera um excedente. Isto pode ser facilmente comprovado pela quantidade de riquezas acumuladas pela humanidade. Se os homens não fossem capazes de produzir  excedentes, consumiriam todo produzido e não poderia a humanidade ter acumulado seu patrimônio. Este valor excedente pertence não ao trabalhador, mas ao capitalista que comprou a força de trabalho. Uma vez vendida ao capitalista, compete a este dizer de que forma ela será utilizada.
A mais valia gerada na produção da mercadoria é partilhada pelo capitalista industrial com os demais segmentos da ordem do capital: capital comercial, capital financeiro, governo, etc... para assegurar a perpetuação da ordem capitalista.

 Fonte:
MARX, K. Processo de trabalho e Processo de produzir mais-valia. O Capital, cap. 5. Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital-v1/vol1cap07.htm. Acesso em 17 de set. 2013.






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