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terça-feira, 17 de setembro de 2013

O capital: Mais-valia: é aí que o capitalista ganha!



Depois de um dia ou um mês de trabalho o trabalhador ganha para realizar uma outra jornada igual a que acabou. Por exemplo, em um dia  de trabalho, o trabalhador ganha o suficiente para comprar uma pequena porção de alimentos para ele e sua família, para pagar 1/30 do aluguel, o passe de transporte, e, com sorte, economizar algum trocado para, mias à frente, comprar uma roupa nova.
Também é levado em conta, como já dissemos, parcela dos seus gastos em sua formação. Somado tudo, este é o valor de sua força de trabalho, isto é o que ele recebe após um dia de trabalho.
Observe aqui que o trabalhador não vende ao capitalista o produto do seu trabalho, ou seja, a quantidade de valor que ele incorporou ao produto final. Ele vende ao capitalista a sua energia que vai ser empregada pelo proprietário no processo de transformação de seus meios de produção (matéria-prima, máquinas, instalações, energia...) em mercadorias. O uso que o capitalista faz dessa energia, assim como o produto final, não pertencem mais ao trabalhador.
Façamos uma comparação: se eu possuo uma pequena oficina, para colocá-la em andamento eu necessito adquirir uma quantidade de energia elétrica junto à companhia fornecedora. Ao final do mês pago a conta da energia gasta. O que eu faço com a energia, se eu desperdiço, se economizo ou se eu tenho lucro com ela não é da conta da companhia. Compro a energia e uso como eu bem entender.


Com o trabalhador eu faço a mesma coisa: eu compro a sua energia calculando seu valor pelo tempo de trabalho socialmente necessário para produzi-la. Compro por uma jornada fixa – um mês, por exemplo. Ao final dessa jornada, pago ao trabalhador o valor necessário para sua recuperação.
Com o salário que recebe ele paga o supermercado, o aluguel de sua casa, paga alguma prestação que tenha feito na compra de roupas ou algum outro bem de consumo imediato e assegura algum gasto com a educação de seus filhos e mesmo algum lazer.
Uma vez que compro a sua energia, assim como a empresa de eletricidade, o trabalhador não tem mais direitos sobre o uso que farei da mesma. A diferença está no fato de que a energia elétrica, embora indispensável para a produção não acrescenta nenhum valor à mercadoria. O valor que eu pago pela energia elétrica é repassado para o produto final sem acrescentar um único centavo.
Com a energia humana, entretanto, acontece algo diferente. O homem, desde os primórdios da humanidade, o homem, quando realiza trabalho, produz bens numa quantidade maior do que necessita para repor as energias gastas nessa atividade. Isto porque o trabalho humano é mediado pela consciência e pela utilização de instrumentos que permitem ao homem acumular conhecimento do processo produtivo e aumentar sua capacidade de produção.
            Se compararmos com a atividade realizada pelos outros animais para permanecerem vivos, veremos que não há em nenhum caso acumulação de conhecimentos, superação de estágios de produção, capacidade, enfim, para ir além da utilização imediata da natureza para a satisfação de necessidades também imediatas. O homem, ao fazer-se homem, ao realizar trabalho consciente, ao apreender no pensamento os elementos da realidade a ser transformada, ao ser transformado por ela, ao comunicar aos outros homens através da linguagem os elementos da sua consciência, desde o início da sua história, é sempre capaz de produzir bens em quantidades maiores do que suas necessidades imediatas.
Ao longo da sua existência, o homem não fez outra coisa a não ser aumentar esta sua capacidade de produção, chegando em nossos dias a níveis espantosos. Se todos homens no mundo realizassem atividades produtivas, poucos minutos de trabalho diários seriam suficientes para produzir os bens necessários à sobrevivência da humanidade.
Daí, portanto, a diferença entre a energia que o capitalista compra da companhia de eletricidade e a energia comprada ao trabalhador. Ao contrário do valor da eletricidade (que apenas se transfere ao produto final), a energia comprada ao trabalhador (que chamamos força de trabalho) é capaz de acrescentar ao produto um valor maior que ela mesma.
Assim, durante uma jornada de trabalho, o trabalhador produz uma quantidade de valor correspondente às suas necessidades de sobrevivência (o valor de sua energia, de sua força de trabalho) que é transformado, em valores monetários, no salário que recebe do capitalista. Mas, além disso, ele produz uma quantidade de valor maior do que o valor de sua energia. Este valor a mais pertence ao capitalista e não é pago ao trabalhador.
A diferença entre o valor que o trabalhador produz (valor do seu trabalho que fica com o capitalista) e o valor de sua energia (valor da força de trabalho que  lhe é paga) chamamos de mais-valia. Ou seja, a mais valia é o lucro que o capitalista extrai do esforço do trabalhador.
Vamos tentar explicar através de um exemplo: imaginem uma confecção de calças jeans em que o capitalista gasta todo mês 200 mil reais em matérias primas (tecidos, linhas, botões, acessórios, etc), gasta mais 10 mil reais pagando o aluguel do galpão onde está instalada sua fábrica, outros 5 mil reais com o desgaste de suas máquinas e cerca de 20 mil reais com energia elétrica.
Este capitalista, todo mês gasta portanto:

matéria – prima.............200 mil
aluguel do galpão............10 mil
desgaste máquinas............5 mil
energia elétrica................20 mil
Total..............................235 mil

Vamos imaginar que ele consiga produzir e vender 10 mil calças por mês. Se for assim, no valor de cada calça teremos o total gasto dividido por 10 mil:
matéria-prima..............20 reais
aluguel.........................01 real
desgaste máquinas.........0,50 real
energia elétrica.............02 reais
Total............................23,50 reais
Este valor por calça ( R$ 23,50) passado para as 10 mil calças produzidas dão, é claro, os 235 mil reais gastos pelo capitalista.

Isto é: todo valor gasto com meios de produção (matérias primas, instalações, máquinas, energia, etc...) é repassado para o valor de cada produto final sem acrescentar valor. Este dinheiro gasto pelo capitalista para comprar os meios de produção chamamos de capital constante , por motivos óbvios: é um valor que é repassado mas permanece inalterado.
Mas, sabemos, máquinas não se movimentam sozinhas: é necessário o uso da força do trabalhador. Nosso capitalista paga aos seus trabalhadores ao final do mês 30 mil reais (chamamos este valor de massa salarial). Vamos imaginar também que esta fábrica tenha cerca de 60 trabalhadores. Cada um receberá, em média, ao final do mês, 500 reais.Com esta fortuna nas mãos, o trabalhador, como já foi dito, paga o aluguel da casa onde mora, a conta no mercado, uma ou outra peça de roupa comprada à prestação, compra, enfim, os bens necessários à sua sobrevivência, os bens necessários para que possa continuar trabalhando para o capitalista.
Como o capitalista gastou estes 30 mil reais com salários, este valor soma-se ao valor gasto com meios de produção (235 mil reais). Assim temos:

Meios de produção .........235 mil reais
Salários..............................30 mil reais
Total.................................265 mil reais

Ou, se pensarmos por peça:
Meios de produção............23,50 reais
Salários................................3,00 reais
Total ..................................26,50 reais

O dinheiro que o capitalista gasta com salários chamamos de capital variável, também por motivos óbvios. Este capital não permanece o mesmo, pois, no final do processo ele teve um valor acrescido. Vejamos porque:
Quando o trabalhador transforma a matéria prima do capitalista (tecido, linha, botões em uma calça) ele incorpora a estes produtos o valor do seu trabalho. Se o capitalista pagou 235 mil reais pelos meios de produção para produzir 10 mil calças, ou seja, 23,50 por calça, cada uma delas, depois de pronta poderá ser vendida por, digamos, 40 reais.
Este valor (40 reais) não depende da vontade do capitalista. Ele corresponde ao tempo de trabalho socialmente utilizado na produção da calça. O trabalhador, neste caso, incorporou a cada calça um valor 16,50 reais  (40 – 23,50). Ora, se os trabalhadores incorporam um valor de 16,50 reais por calça, incorporam 165 mil reais se pensarmos nas dez mil calças produzidas.
Mas esse não é o valor da massa salarial paga pelo capitalista aos trabalhadores. Vimos que o capitalista paga 30 mil reais e, agora, esta quantia transformou-se em 165 mil reais: os outros 135 mil são embolsados pelo capitalista na forma de lucro ou de mais valia. O capital utilizado para pagar os trabalhadores não somente transferiu-se para o produto final, mas também produziu um a mais no valor de 135 mil. O lucro do capitalista vem sempre do capital variável e nunca do capital constante, ou seja, vem sempre do trabalho não pago ao trabalhador. 

Fonte:

O capital: texto de apoio. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAABvxUAK/capital-texto-apoio. Acesso em 17 de set. 2013.

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