Para que
o capitalista lucre não basta apenas comprar e vender mercadorias à espera que
sempre possa fazer um bom negócio. Ele necessita de algo mais seguro, que não
seja instável, que não dependa apenas da ingenuidade dos outros.
O que o
capitalista precisa é de uma mercadoria que, uma vez comprada, seja capaz de produzir
um valor a mais. Mas já vimos páginas atrás que nenhuma mercadoria produz valor
, que o valor é sempre produzido pelo trabalho humano. Como pode nosso
capitalista encontrar uma mercadoria que produza valor? A resposta é muito
simples: transformando o trabalho em mercadoria.
Mas, como
pode o trabalho ser transformado em mercadoria?
Novamente
os capitalistas tem a resposta na ponta da língua: é necessário que o
trabalhador não tenha nenhuma outra mercadoria para vender a não ser sua
própria força de trabalho. Desta forma ele terá que chegar ao capitalista e
vender o seu esforço caso queira continuar sobrevivendo.
Este
processo que inicialmente separou os trabalhadores dos meios de produção (da
terra, das ferramentas, das matérias-primas...) Marx estudou no capítulo XXIV
de O Capital onde descreveu o processo de acumulação primitiva, o ponto
de partida do capitalismo.
Neste
capítulo, Marx mostra que o processo de separação do trabalhador dos meios de
produção não se deu de forma pacífica. Foi, por exemplo, o cercamento dos
campos, quando os camponeses foram expulsos de suas terras e, lançados na
miséria, foram obrigados a vender sua força de trabalho nas oficinas das
cidades.
Mas foi
também o conjunto de leis sanguinárias que puniam com extremo rigor todo aquele
que fosse apanhado sem uma ocupação definida. Expulso da sua terra, o
trabalhador que não encontrasse emprego era tratado como criminoso, como
inimigo da sociedade que precisa ser punido com marcas de ferro em brasa pelo
corpo, com a escravidão, o exílio ou mesmo com a morte. O capitalismo
desde seu início impõe toda sorte de violência ao trabalhador e depois o trata
não como a vítima de uma existência miserável, mas como o único culpado por sua
miserabilidade.
Marx
neste capítulo baseia-se na história inglesa dos séculos XVI a XVIII, mas estes
elementos de violência contra o trabalhador podem ser encontrados, de uma forma
ou de outra, nos nossos dias e em nossas cidades e campo.
Mas
voltemos à mercadoria que produz valor. Sem os meios de produção o trabalhador
é obrigado a vender a única coisa que lhe restou, ou seja, a sua força de
trabalho.
Como se
mede o valor desta força de trabalho que o trabalhador oferece ao capitalista?
Ora, como a força de trabalho é uma mercadoria, seu valor deve ser medido da
mesma forma que qualquer outra mercadoria.
Já vimos
que o valor de uma mercadoria é medido pelo tempo de trabalho socialmente
necessário para produzi-la. O valor da força de trabalho é medido também pelo
tempo de trabalho socialmente necessário para produzi-la.
Ao final
de uma jornada de trabalho, o trabalhador precisa repor as energias gastas
durante o processo de produção. Necessita uma série de bens que permitam esta
recomposição de forças: precisa de uma casa onde possa abrigar-se, de um bom
prato de comida, de roupas limpas, de um meio de transporte que lhe permita
deslocar-se de casa ao trabalho e vice-versa. Precisa reproduzir-se porque,
afinal, algum dia alguém terá que substituí-lo no pé da máquina.
Durante
esta jornada, o trabalhador também consome uma parcela do tempo em que
preparou-se para aquela função. Se ele é um trabalhador especializado, que
freqüentou uma escola técnica, durante cada dia de trabalho consumirá um pouco
deste esforço que realizou durante seu tempo de aprendizagem.
O valor
de sua força de trabalho é igual ao valor dos bens que necessita para continuar
trabalhando e da parcela de esforço que realizou para formar-se como
trabalhador.
Fonte:
O capital: texto de apoio. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAABvxUAK/capital-texto-apoio.
Acesso em 17 de set. 2013.
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