O
dinheiro, portanto, é apenas equivalente-geral que facilita as trocas
mercantis. Dentro desta função, ele apenas obedece à regra simples do M-D-M’ ,
que significa dizer que eu tenho uma mercadoria que eu troco por dinheiro
(primeira parte M-D) e que em seguida troco esta quantidade de dinheiro por uma
outra mercadoria (segunda parte D-M’).
Em outros
termos eu digo que troco uma mercadoria que tenho e que é um não-valor-de-uso
para mim por dinheiro e depois troco este dinheiro por algo que eu não tenha e
que seja um valor-de-uso para mim. Portanto, M deve ser qualitativamente
diferente de M’.
Para
continuar obtendo valores-de-uso que não me pertencem, produzo mais quantidades
de um não valor-de-uso para mim para serem trocados por dinheiro (pois são
valores-de-uso para os portadores do dinheiro) que eu trocarei por mais
valores-de-uso para mim.
Em tais
circunstâncias o dinheiro é apenas dinheiro, não atuando como capital. Dinheiro
e capital não são necessariamente a mesma coisa. Veremos que podemos ter
dinheiro que não é capital e capital que não está sob a forma de dinheiro. Ou
ainda dinheiro que é capital e que ao trocar de mãos deixa de sê-lo como em um
passe de mágica.
O
dinheiro adquire esta forma de capital somente quando o processo de trocas já
está suficientemente desenvolvido a ponto de que os homens sejam capazes de
perceber que com maiores quantidades de equivalente-geral maiores quantidades
de valores-de-uso poderão ser obtidas.
A fórmula
M-D-M’ transmuta-se em D-M-D’, ou seja, de mercadoria trocada por dinheiro para
obter outra mercadoria, temos agora uma certa quantidade de dinheiro trocada
por uma mercadoria que, uma vez revendida, poderá me dar uma quantidade maior
de dinheiro.
Entre as
duas fórmulas observamos que na primeira o dinheiro atua apenas como elemento
facilitador das trocas, não sendo a razão destas. Os extremos M e M’ são
qualitativamente diferentes.
Na
segunda, podemos observar que o dinheiro se torna o elemento em razão do qual a
troca se realiza. Os extremos D e D’ são qualitativamente iguais, mas quantitativamente
diferentes.
Neste
caso, parece que estamos diante de uma contradição: se na primeira parte do
processo eu troco D-M (dinheiro por mercadoria) suponho estar trocando
mercadorias de igual valor. Se na segunda parte do processo eu troco M-D’
(mercadoria por dinheiro) devo supor também que estou trocando mercadoria do
mesmo valor.
Se assim
for, devo concluir que D e D’ possuem o mesmo valor e que acabei trocando seis
por meia dúzia. É claro que esta não pode ser a lógica do capital. Se D tiver o
mesmo valor que D’ então não haverá lucro.
Com
alguma simplificação poderemos dizer que eu obtenho o lucro comprando por um
preço menor e vendendo por um preço maior. Circunstancialmente isto até pode
acontecer ( e aí estamos falando de preços e não de valor), mas o sistema
capitalista não pode viver apenas da ilusão circunstancial de alguns e da esperteza
de outros.
Ademais,
na sociedade capitalista todos são ao mesmo tempo compradores e vendedores de
algum tipo de mercadoria e se o lucro fosse apenas um jogo entre espertos o que
eu lucraria aqui enganando algum comprador eu perderia ali sendo enganado por
outro vendedor. A chave do lucro de alguns e da miséria de milhares deve estar
em outro lugar.
Fonte:
O capital: texto de apoio. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAABvxUAK/capital-texto-apoio.
Acesso em 17 de set. 2013.
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