Como
vimos, nenhuma mercadoria traz em si mesma uma quantidade de valor. Podemos
tomar qualquer uma delas e virarmos e revirarmos e nada identificaremos nela
que possamos dizer: “aqui está o valor desta mercadoria”.
Isto
acontece porque o valor de uma mercadoria tem sempre que se expressar em outra
mercadoria que lhe é equivalente. E deve ser assim porque, ao trocarmos uma
mercadoria por outra, ao dizermos que xA vale yB, estamos dizendo que para
produzir xA necessito da mesma quantidade de trabalho social que para produzir
yB.
Estamos,
portanto, trocando trabalhos e é isto que muitas vezes escapa ao nosso
pensamento. Como a mercadoria é visível, palpável, sensível, somos sempre
tentados a encontrar nela o valor e não em uma relação entre produtores cujas
quantidades de trabalho trocadas, embora concretas, não estão diante de nossos
olhos.
Invertemos,
então, involuntariamente a questão. Deixamos de perceber o valor de uma
mercadoria, qualquer que seja ela, resulta de uma atividade tipicamente humana,
qual seja, o trabalho. Naturalizamos o valor ao atribuirmo-lo à mercadoria, ao
reconhecermos que “naturalmente” o ouro, por exemplo, vale mais que a banana.
E sempre
que naturalizamos algo que é social, acabamos por excluir o homem deste
processo. Se levarmos isto adiante, chegaremos a reconhecer que uma pepita de
ouro é sempre valiosa, seja no centro bancário de São Paulo ou nos canais
desertos de Marte.
Esta
inversão implica, portanto, que excluímos o homem do processo de produção do
valor e atribuímos esta função à própria mercadoria. Isto é, fetichizamos a
relação dando a algo que é inumano (a mercadoria) uma qualidade humana (produzir
valor através do trabalho).
É claro
que esta moeda tem um outro lado: quanto mais atribuímos qualidades humanas aos
objetos, mais retiramos dos homens as suas qualidades. Só podemos tornar as
coisas humanas na medida em que tornamos os homens coisas. O processo que
conduz à fetichização da mercadoria é o mesmo que conduz à reificação, ou à
coisificação do homem.
Esta
dupla inversão se coloca no primeiro plano da produção da alienação e se torna
peça indispensável para o pensamento mistificador do capitalismo e para a
elaboração de justificativas necessárias à exploração do homem pelo homem.
Se a
mercadoria exerce o poder de seu fetiche sobre nós, seu derivado mais complexo,
o dinheiro, o faz com eficácia ainda maior.
O
dinheiro, já vimos, é apenas mais uma mercadoria, o produto tardio das relações
de troca. As trocas já estão maduras quando aparece a figura do dinheiro em
substituição aos equivalentes-gerais outros que vão sendo abandonados em favor
desta forma mais desenvolvida.
Sob a
forma de quantidades de ouro, depois pela moeda e pelo papel-moeda, o dinheiro
nada mais é que a representação de uma quantidade de trabalho social que me
permite intermediar trocas mercantis.
Como
mercadoria, é compreensível, pelo já visto, que o dinheiro exerça sobre nós um
fetiche. Mas o dinheiro exerce sobre nós a falsa impressão de que é ele que
estabelece o valor das mercadorias. Ao confundirmos preço (expressão monetária
do valor) com o próprio valor acabamos por fortalecer esta interpretação
fetichizada da realidade.
Mas, o
próprio Marx nos adverte que, mesmo conhecendo os mecanismos da pressão
atmosférica não podemos nos livrar dela, também sob o capitalismo o
conhecimento do fetiche das mercadorias e do dinheiro não nos permite viver
fora do mundo das trocas alienadas.
Fonte:
O capital: texto de apoio. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAABvxUAK/capital-texto-apoio.
Acesso em 17 de set. 2013.
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