O
valor-de-uso de um produto é dado pelas suas qualidades físicas. Assim, uma
fruta serve de alimento para nós se a consumirmos em uma cidade com milhões de
habitantes ou se estivermos isolados em uma ilha deserta. Já o valor-de-troca,
ou simplesmente valor, é necessariamente uma relação social.
Em
primeiro lugar porque o valor de uma mercadoria se expressa sempre em outra
mercadoria pela qual é trocada. No nosso exemplo anterior, uma mesa vale um
casaco. O valor de uma mercadoria nunca é dado por si mesmo. Dizer que uma mesa
vale uma mesa ou que um casaco vale um casaco não tem qualquer significado.
Porém, o
valor é mais que isto. O valor é dado não só pelo tempo de trabalho necessário
para a produção de uma mercadoria, mas pelo tempo de trabalho socialmente
necessário. Isto quer dizer que em uma determinada sociedade os homens gastam
em média uma quantidade “x” de energia humana para produzir uma mercadoria “A”.
Se eu, por falta de habilidade ou por não possuir as ferramentas adequadas,
gasto mais energia do que a média da sociedade para produzir esta mercadoria, o
seu valor permanece o mesmo. Nestas condições, gastarei mais energia humana,
mas não obterei mais valor por isso. Da mesma forma, o contrário também é
verdadeiro. Se, por algum motivo, consigo produzir a mesma mercadoria com um
gasto menor de energia comparado com a média social, seu valor não diminui,
pois continua sendo determinado por aquela média.
Assim, o
valor de uma mercadoria é sempre socialmente estabelecido e pode se modificar a
medida que as condições de sua produção sejam alteradas. Imaginemos duas
mercadorias como o ferro e o trigo. Certamente podemos trocar certa quantidade
“x” de trigo por uma quantidade “y” de ferro desde que para produzir “x” de
trigo seja necessário gastar a mesma energia humana que para produzir “y” de
ferro. Se, entretanto, for encontrada uma nova jazida de ferro, o que implicará
em menor esforço humano para sua obtenção, então o ferro perderá valor quando
comparado ao trigo. Neste caso precisarei de uma quantidade “x” + “z” de ferro
para trocar pela mesma quantidade “y” de trigo.
Da mesma
forma, se por meio da mecanização da lavoura pode-se obter a mesma quantidade
de trigo com menos esforço humano, então o trigo perderá seu valor diante do
ferro e de todas outras mercadorias. Não importa que eu, individualmente,
continue usando formas arcaicas para produzir o trigo, com maior gasto de
energia. O valor do trigo será sempre socialmente estabelecido.
Por este
raciocínio, pode parecer que interessa ao produtor não desenvolver novas
técnicas de produção para manter sua mercadoria valorizada. Mas, não podemos
esquecer que entre os produtores de mercadoria há sempre uma disputa. Se eu
desenvolver uma técnica para produzir mais que meu concorrente com o mesmo
gasto de energia serei beneficiado enquanto esta técnica não estiver sendo
utilizada pela média dos demais produtores. Isto conduziria a uma queda do
valor de minha mercadoria, mas o mesmo processo acontece com os produtores de
outras mercadorias, restabelecendo entre elas certo equilíbrio.
Fonte:
O capital: texto de apoio. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAABvxUAK/capital-texto-apoio.
Acesso em 17 de set. 2013.
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