O número
de casos de câncer vem aumentado por causa do aumento da expectativa de vida,
aumento de hábitos de vida que tem mais predisposição e desenvolvimento na área
de oncologia (mais diagnósticos). Apesar dos avanços, a baixa qualidade de vida
de quem o porta ou a mortalidade ainda é grande, por isso o câncer continua
relacionado com sofrimento, mutilação, dor e morte, na nossa cultura. É
importante ressaltar que existem tratamentos eficazes, mas essa ideia de morte
eminente está tão enraizada que não muda. Imbaut-Huart (1985) diz que investimos em uma doença a nossa angustia
pela fragilidade humana, nossa impotência diante da doença e morte. O câncer se
torna um mal que não encaramos, mas negamos e afastamos do nosso horizonte.
Helman (1994) explicita que o câncer
virou, em nossa sociedade, uma metáfora do mal, portador de poderes malignos,
que destrói o corpo humano e a sociedade. A questão levantada foi sobre
que sentimentos esses profissionais (médicos, enfermeiros, assistentes sociais,
psicólogos e outros), que lidam com pacientes graves de câncer e com a morte, têm
nesse dia-a-dia e como convivem com isso.
Para essa análise foi feita uma revisão bibliográfica das publicações brasileiras, principalmente da ultima década, focando o sofrimento de profissionais que lidam com pacientes oncológicos graves e com a morte. Um envolvimento emocional mais estreito entre profissional, paciente e familiares, acontece pela demora do tratamento e retornos. Dessa forma a vivencia das expressões psicológicas e da fragilidade humana se tornam frequentes (KATO, 1986; MARTINS, 1991; TORRANO-MASETTI, OLIVEIRA E SANTOS, 2000; VIVONE, 2004). Caparelli (2002) constata que os sentimentos despertados são parecidos com os dos familiares: negação, raiva, culpa, pensamento mágicos, sintomas depressivos, impotência pelos recursos pessoais e científicos, principalmente quando o tratamento não dá resultados. Os profissionais não têm esses sentimentos bem delineados e não lhes é dada a devida consideração. As dificuldades resultam muitas vezes no isolamento fazendo-os sofrer em silêncio. Ferreira (1996) identificou sentimentos gratificantes, entre os enfermeiros, como ver a recuperação, o contato, ajuda no conhecimento da doença e orientação para com esses pacientes. Porém a autora enfatiza que a vivencia com o sofrimento, as internações recorrentes, a sensação de impotência do profissional e a revolta com a morte são fatores difíceis de conviver. Popim e Boemer (2005) perceberam que os enfermeiros vêm o paciente de câncer com restrições de possibilidades e horizontes, identificando-o como alguém que “pede” uma relação mais estreita, com vínculos afetivos. Françoso (1996) menciona que muitas vezes o enfermeiro passa da atenção técnica para suprir suas próprias necessidades psicológicas, como uma necessidade de reparação. Franco (2003) destaca que esses profissionais muitas vezes se identificam com alguns desses pacientes criando uma relação afetiva e a morte deste pode lhes causar sintomas de luto. Kato (1983) estudando as consequências psicológicas dessa doença em crianças e seus familiares pôde constatar que os adultos veem a cura como milagre e não como uma consequência dos avanços científicos. Destaca também que os adultos acabam vivendo em um luto antecipado, desinvestindo em suas vidas afetiva. É importante ressaltar que as profissões da saúde, mesmo fora da área oncológica, já têm suas consequências psicológicas. Labate e Cassorla (1999) destacam que esses profissionais têm seu emocional abalado por muitas vezes e isso atrapalha seu trabalho e lhe traz sofrimento. Ele aponta que o profissional da saúde tem uma profissão insalubre do ponto de vista psicológico. Tentam criar fantasias de onipotência e quando falham atribuem o sofrimento a outros fatores. Mascaram o sofrimento e assim não buscam soluções para criar uma salubridade nesse aspecto. Martins (1991) enumera alguns fatores que podem ser causadores de risco para a saúde mental: o convívio íntimo com a dor, sofrimento, perspectiva de morte e morte, frequentemente; se envolver com a intimidade corporal e emocional do paciente; lidar com personalidades difíceis e conviver com pacientes que buscam respostas certas e garantidas, tendo um conhecimento cientifico que não se encaixa nisso. Oliveira (2002) considera que essa vivencia com situações delicadas faz o profissional sentir a precariedade e mortalidade que também esta sujeito, ele lembra que também é humano e se angustia por isso. Uma possível alternativa Para a melhora de tanto sofrimento seria o compartilhamento dele, em grupo, para que o sentimento seja acolhido e elaborado, já que a precariedade humana é irremediável. Uma segunda proposta exposta pela autora é a possibilidade de preparar esses profissionais, oferecendo-lhes estudos sobre as várias dimensões da morte. Desse modo o profissional se beneficiaria e também ajudaria na atenção ao paciente e seus familiares. A escolha dessas profissões pode significar uma maneira de lidar com o medo da morte. Com relação à medicina a escolha, muitas vezes, pode mostrar um desejo de proteger as pessoas da família e a si mesmo, da doença e da morte (MARTINS, 1991). Meleiro (2001) ressalta que, quando questionado, esse profissional diz que o motivo é a tentativa de ajudar, porém estão incluídos também a negação da dependência e busca pela onipotência. Kovács (1998) aplicou testes nos estudantes de para medir o medo da morte e os psicólogos tiveram um resultado mais alto, talvez por estarem em contato com seus conflitos mais frequentemente, porém fica clara essa necessidade de compreender esses sentimentos. Torres et al (1998) mostra que os estudantes de biologia não escondem tanto suas inquietações quanto a morte e o morrer. Os estudantes de Terapia Educacional, Fisioterapia e Nutrição se aproximaram mais do grupo de Enfermagem. Os futuros Psicólogos pareceram menos defensivos expressando inquietação quanto ao tema e sendo ambíguos ao apresentar conforto com a morte, mostraram mais lucidez emocional, mas segundo a autora tiveram uma recusa consciente quanto a questão. Torres e Guedes (1987) ressaltam que os psicólogos utilizam a negação como defesa, omitindo suas reações emocionais. Por isso são poucos os trabalhos que abordam as emoções dos terapeutas, inclusive quando tratam pacientes suicidas. Para suportar as cargas emocionais que carregam, os profissionais da saúde, criam defesas que passam a fazer parte de seu caráter, se isola para dar conta de suas fragilidades. Esslinger (2004) lembra que a morte é frequente em um ambiente hospitalar, porém há um silencio que leva a solidão do paciente em questão, seus familiares e a solidão da equipe diante de seus medos e angustias. É complicado ser frágil em uma sociedade em que se almeja tanto a força. A questão é que com tantos avanços tecnológicos são esquecidas a certeza da morte e da fraqueza humana. O profissional acaba passando por uma negação ou ativismo exacerbado de suas técnicas, podendo se tornar evasivo, onipotente ou irado.
Para essa análise foi feita uma revisão bibliográfica das publicações brasileiras, principalmente da ultima década, focando o sofrimento de profissionais que lidam com pacientes oncológicos graves e com a morte. Um envolvimento emocional mais estreito entre profissional, paciente e familiares, acontece pela demora do tratamento e retornos. Dessa forma a vivencia das expressões psicológicas e da fragilidade humana se tornam frequentes (KATO, 1986; MARTINS, 1991; TORRANO-MASETTI, OLIVEIRA E SANTOS, 2000; VIVONE, 2004). Caparelli (2002) constata que os sentimentos despertados são parecidos com os dos familiares: negação, raiva, culpa, pensamento mágicos, sintomas depressivos, impotência pelos recursos pessoais e científicos, principalmente quando o tratamento não dá resultados. Os profissionais não têm esses sentimentos bem delineados e não lhes é dada a devida consideração. As dificuldades resultam muitas vezes no isolamento fazendo-os sofrer em silêncio. Ferreira (1996) identificou sentimentos gratificantes, entre os enfermeiros, como ver a recuperação, o contato, ajuda no conhecimento da doença e orientação para com esses pacientes. Porém a autora enfatiza que a vivencia com o sofrimento, as internações recorrentes, a sensação de impotência do profissional e a revolta com a morte são fatores difíceis de conviver. Popim e Boemer (2005) perceberam que os enfermeiros vêm o paciente de câncer com restrições de possibilidades e horizontes, identificando-o como alguém que “pede” uma relação mais estreita, com vínculos afetivos. Françoso (1996) menciona que muitas vezes o enfermeiro passa da atenção técnica para suprir suas próprias necessidades psicológicas, como uma necessidade de reparação. Franco (2003) destaca que esses profissionais muitas vezes se identificam com alguns desses pacientes criando uma relação afetiva e a morte deste pode lhes causar sintomas de luto. Kato (1983) estudando as consequências psicológicas dessa doença em crianças e seus familiares pôde constatar que os adultos veem a cura como milagre e não como uma consequência dos avanços científicos. Destaca também que os adultos acabam vivendo em um luto antecipado, desinvestindo em suas vidas afetiva. É importante ressaltar que as profissões da saúde, mesmo fora da área oncológica, já têm suas consequências psicológicas. Labate e Cassorla (1999) destacam que esses profissionais têm seu emocional abalado por muitas vezes e isso atrapalha seu trabalho e lhe traz sofrimento. Ele aponta que o profissional da saúde tem uma profissão insalubre do ponto de vista psicológico. Tentam criar fantasias de onipotência e quando falham atribuem o sofrimento a outros fatores. Mascaram o sofrimento e assim não buscam soluções para criar uma salubridade nesse aspecto. Martins (1991) enumera alguns fatores que podem ser causadores de risco para a saúde mental: o convívio íntimo com a dor, sofrimento, perspectiva de morte e morte, frequentemente; se envolver com a intimidade corporal e emocional do paciente; lidar com personalidades difíceis e conviver com pacientes que buscam respostas certas e garantidas, tendo um conhecimento cientifico que não se encaixa nisso. Oliveira (2002) considera que essa vivencia com situações delicadas faz o profissional sentir a precariedade e mortalidade que também esta sujeito, ele lembra que também é humano e se angustia por isso. Uma possível alternativa Para a melhora de tanto sofrimento seria o compartilhamento dele, em grupo, para que o sentimento seja acolhido e elaborado, já que a precariedade humana é irremediável. Uma segunda proposta exposta pela autora é a possibilidade de preparar esses profissionais, oferecendo-lhes estudos sobre as várias dimensões da morte. Desse modo o profissional se beneficiaria e também ajudaria na atenção ao paciente e seus familiares. A escolha dessas profissões pode significar uma maneira de lidar com o medo da morte. Com relação à medicina a escolha, muitas vezes, pode mostrar um desejo de proteger as pessoas da família e a si mesmo, da doença e da morte (MARTINS, 1991). Meleiro (2001) ressalta que, quando questionado, esse profissional diz que o motivo é a tentativa de ajudar, porém estão incluídos também a negação da dependência e busca pela onipotência. Kovács (1998) aplicou testes nos estudantes de para medir o medo da morte e os psicólogos tiveram um resultado mais alto, talvez por estarem em contato com seus conflitos mais frequentemente, porém fica clara essa necessidade de compreender esses sentimentos. Torres et al (1998) mostra que os estudantes de biologia não escondem tanto suas inquietações quanto a morte e o morrer. Os estudantes de Terapia Educacional, Fisioterapia e Nutrição se aproximaram mais do grupo de Enfermagem. Os futuros Psicólogos pareceram menos defensivos expressando inquietação quanto ao tema e sendo ambíguos ao apresentar conforto com a morte, mostraram mais lucidez emocional, mas segundo a autora tiveram uma recusa consciente quanto a questão. Torres e Guedes (1987) ressaltam que os psicólogos utilizam a negação como defesa, omitindo suas reações emocionais. Por isso são poucos os trabalhos que abordam as emoções dos terapeutas, inclusive quando tratam pacientes suicidas. Para suportar as cargas emocionais que carregam, os profissionais da saúde, criam defesas que passam a fazer parte de seu caráter, se isola para dar conta de suas fragilidades. Esslinger (2004) lembra que a morte é frequente em um ambiente hospitalar, porém há um silencio que leva a solidão do paciente em questão, seus familiares e a solidão da equipe diante de seus medos e angustias. É complicado ser frágil em uma sociedade em que se almeja tanto a força. A questão é que com tantos avanços tecnológicos são esquecidas a certeza da morte e da fraqueza humana. O profissional acaba passando por uma negação ou ativismo exacerbado de suas técnicas, podendo se tornar evasivo, onipotente ou irado.
Palavras-chave: Profissionais da saúde, pacientes
oncológicos, sofrimento psicológico, câncer, morte, angustia.
Silva, L. C. da. O sofrimento psicológico dos profissionais de saúde na atenção ao paciente de câncer. Psicologia para América Latina, México, v. 16, p. 07, 2009.
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