Segundo González
Rey (2005 apud 1997) a Epistemologia Qualitativa é uma pesquisa qualitativa,
com perspectiva epistemologia e psicológica. O modelo quantitativo, empírico e
descritivo caracterizado pelo positivismo, e foi cobrado nas ciências sociais. O
principal problema da quantificação se encontra naquilo que é quantificado
dentro de um sistema teórico, à medida que os aspectos quantitativos vão
adquirir significado. Por isso nessa perspectiva
o instrumento é utilizado, como forma de classificação e critério de afirma dos
processos da pesquisa.
Consequentemente
uma discussão epistemológica, permite uma posição reflexiva que leve a
fundamentar e interrogar os princípios metodológicos, assim como compreender as
contradições da pesquisa cientifica. Portanto ao discutir metodologia
qualitativa é necessário acrescentar na discussão, o debate
teórico-epistemológico, sem separar os instrumentos da conversa. Por isso sem
uma revisão epistemológica, pode gera uma posição instrumentalista ao legitimar
o qualitativo (GONZÁLEZ REY, 2005).
Segundo González
Rey (2005, p.5) define a Epistemologia Qualitativa como o “caráter construtivo
interpretativo do conhecimento, o que de fato implica compreender conhecimento
como produção e não como apropriação linear de uma realidade que se nos
apresenta”. O autor acrescenta que a
Epistemologia Qualitativa tem o objetivo de acompanhar as necessidades da
pesquisa qualitativa, voltada para a Psicologia, à medida que propõe referencia
epistemológicas alternativas, frente aos critérios dominantes do positivismo. A
proposta da Epistemologia Qualitativa é de desenvolver uma reflexão aberta, a
medida que busca responder de maneira diferente as novas perguntas e desafios
que surgiram no processo histórico, que outras representações epistemológicas
anteriores não conseguiram.
Segundo González
Rey (2005) ao enfatizar o caráter construtivo-interpretativo da pesquisa é
compreender a proposta metodológica e caráter teórico, por isso é plausível
discutir que pretendido pelo autor romper com as dicotomias entre empírico e
teórico. O caráter construtivo-interpretativo do conhecimento, é que o
conhecimento é uma construção, ou seja, uma produção humana, ordenada em
categorias universais do conhecimento. Por conseguinte o conceito “zona de
sentido” é o espaço de inteligibilidade que se produz as pesquisas cientificas.
Por isso o conhecimento legitima-se na capacidade de gerar novas zonas de
inteligibilidade. Portanto o
conhecimento é um processo de construção que se encontra na capacidade de
produzir, no pensamento do pesquisador.
Em seguida o
autor discute que a Epistemologia Qualitativa considera a legitimação do
singular como instancia de produção de conhecimento cientifico. À medida que o valor do singular está
relacionado com a compreensão do teórico, por isso o caso singular torna-se
legitimo, quando este representa as conclusões exposta teoricamente. Nem toda
pesquisa qualitativa tem fim teórico, mas pode ser prático, o que é necessário
ter no horizonte, que a pesquisa teórica apresenta diferentes níveis, que
consequentemente são diferentes da pesquisa empírica. Por isso a legitimação do
singular acontece, porque é fonte de conhecimento, ao ponto que a produção
teórica, demonstra essa construção dos modelos inteligibilidade (GONZÁLEZ REY, 2005).
Por conseguinte,
ao compreender está temática González Rey (2005) discute que a pesquisa
representa um processo permanente de implicação intelectual por parte do
pesquisador, em que a sociedade é um sistema complexo, e qualquer processo que
acontecer gera infinitos sistemas e elementos, sendo que esses elementos
permitem articular o modelo de significação do social na vida humana. A
singularidade possui um valor relevante, nas ciências antropossociais, em que
possui uma das características da subjetividade humana, configurada pela
cultural.
O autor
acrescenta que outro atributo da Epistemologia Qualitativa é o “ato de
compreender a pesquisa, nas ciências antropossociais, como um processo de
comunicação, um processo dialógico”. A ênfase na comunicação está centrada no
fato de que os problemas sociais e humanos se expressa, na comunicação das
pessoas seja direta ou indiretamente. A comunicação é o espaço privilegiado que
inspira a expressão simbólica do sujeito, ou seja, que será a via para o estudo
da subjetividade. Por isso a comunicação será a via em que os participantes de
uma pesquisa se converterão em sujeitos, com seus interesses, desejos e
contradições A pesquisa qualitativa orientada a estudar a produção de sentido
subjetivo do sujeito, com articulação com os diferentes processos e
experiências (GONZÁLEZ REY, 2005).
Segundo González
Rey (2005) a subjetividade é inseparável da cultura, por isso é um sistema
complexo que expressa sentidos subjetivos a diversidade de aspectos objetivos
da vida social. Por isso, é por meio dos sentidos, que se encontra espaço para
compreender a subjetividade. O sentido é uma formação dinâmica com inúmeras
zonas instáveis, já por outro lado, o significado é zonas de sentido que são
estáveis. O sentido subjetivo delimita em espaços simbolicamente produzidos
pela cultura. Portanto o sentido
caracteriza o processo da atividade humana em seus diversos campos de ação.
González Rey (2005, p.32) discute que o sentido “não é algo que aparece
diretamente nas respostas das pessoas, nem nas representações [...], apenas
aparece disperso na produção total da pessoa”. A subjetividade social apresenta
nas representações sociais, e que atravessa os discursos e produções de
sentidos que configuram sua organização subjetiva. A subjetividade se expressa
em configurações estáveis de produção de sentidos subjetivos.
Ao discutir
sobre a pesquisa qualitativa, o autor acrescenta que a teoria é uma construção
de um sistema de representações capaz de articular diferentes categorias e
gerar inteligibilidade, sendo que não são sistemas estáticos aos quais
assemelha todo o novo conteúdo. Na Epistemologia Qualitativa, a teoria, é
definida como “sistema aberto [...] com representações teóricas mais gerais
assumidas pelo pesquisador” (GONZÁLEZ REY, 2005, p. 30). Para o autor, o
empírico representa o momento que a teoria se confronta com a realidade, sendo
representado pela informação que resulta dessa confrontação, por isso o
empírico é inseparável do teórico. Uma teoria tem um núcleo fundamental que se
estende em espaços distintos de significação, os quais modificam em relação ao
empírico. Para o autor, a teoria existe em dois níveis inter-relacionados,
entre si, no nível macro que organiza representações de estabilidade e não
dilui no empírico, e o outro nível é o local, que é comprometido de forma mais
imediata com empírico, pois gera representações e conceitos (GONZÁLEZ REY,
2005).
Segundo González
Rey (2005) o lugar da teoria é inseparável dos princípios gerais da
Epistemologia Qualitativa, em que implica a renuncia do empírico como lugar de
legitimação e produção de conhecimento. O autor acrescenta que a produção de
conhecimento é um processo teórico, comprometido com a realidade, em que
desafia constantemente pelo empírico.
A
instrumentalização é considerar o instrumento como a única via legitima para
produzir informação na pesquisa. O instrumentalismo surgiu como uma necessidade
derivada da busca pela objetividade, valendo da neutralidade como principio do
uso de instrumentos. A base epistemológica do uso de instrumentos vem do
positivismo, que institucionaliza o cientifico por meio da utilização de
instrumentos. Sobre esse ponto, González Rey (2005, p.38) discute que:
O valor da informação está definido pelo
caráter dos instrumentos que a produzem exclui o momento de aplicação das
idéias e reflexões do pesquisador; considerando só a informação procedente dos
instrumentos como legítima, com a qual a coleta de informação se converte em
ritual instrumental que exclui toda informação proveniente da reflexão do pesquisador.
Os instrumentos
mais utilizados pelas diferentes ciências antropossociais, se encontra o
questionário, que instrumento associado ao estudo de representações do sujeito.
O questionário impõe o universo simbólico, que o move o sujeito que responde. A
Epistemologia Qualitativa considera os instrumentos como toda situação ou
recurso que permite ao outro expressar-se no contexto de relação que
caracteriza a pesquisa. Portanto, segundo o autor, o instrumento representa o
meio pelo qual vai provocar a expressão do outro sujeito, mas também é uma
fonte de informação, separada em categorias. Por isso os instrumentos se
baseiam nas expressões simbólicas diferenciadas das pessoas, e representa os
meios que envolvem as pessoas emocionalmente (GONZÁLEZ REY, 2005).
Segundo González
Rey (2005) os sistemas conversacionais permitem deslocar-se do lugar central
das perguntas para integrar-se numa dinâmica de conversação. A conversação vai
tomando formas distintas, em que a informação se define pelas argumentações extraverbais,
em outras palavras são de estimular ou provocar a conversa sobre temas gerais,
que impliquem na pesquisa. A conversação é um processo ativo, que se trava
entre o pesquisador e sujeito, em que acontece o processo de comunicação, que
envolve reflexões e emoções. A conversação é sistema em que os participantes se
orientam em seu próprio curso, à medida que os aspetos subjetivos aparecem. É
importante ressaltar que as conversações podem ser grupais ou individuais.
Os instrumentos
escritos representam a possibilidade de posicionar o sujeito de forma rápida e
simples, por meio de indutores, por isso o objetivo dos instrumentos escritos é
facilitar as expressões do sujeito. O questionário é uma técnica escrita, que
pode ser do tipo fechado, que é utilizado para obter informação objetiva e
descritiva. O questionário mais usado é do tipo aberto, que seria igual a uma
entrevista, à medida que permite expressão do sujeito. Neste caso as perguntas
são abertas e orientadas a facilitar a expressão ampla das pessoas. É
pertinente destacar que as perguntas formam um sistema, e combina a busca de
informação. Outro instrumento escrito é o complemento de frase, que são
indutores curtos, que são preenchidos pela pessoa que responde. O complemento
de frases evidencia informações diretas, como a intencionalidade do sujeito. O
complemento de frases não tem regras rígidas a serem cumpridas na elaboração
(GONZÁLEZ REY, 2005).
Segundo González
Rey (2005) as redações são instrumentos abertos, que permitem a produção de
trechos de informação pelos sujeitos, com independência de perguntas diretas
apresentadas pelo pesquisador. As redações representam excelentes vias de
produção de trechos de informação em sujeitos motivados e envolvidos com o tema
proposto. Outro instrumento é o conflito de diálogos, permite acessar os
valores e motivos morais. Outra forma de utilização dos instrumentos é apoiada
em indutores não escritos, como pranchas, fotos, desenhos, fantoches, filmes,
entre outros. O objetivo desse tipo de instrumento é semelhante ao de qualquer
outro, ou seja, facilitar a expressão de trechos de informação por meio de
indutores.
REFERENCIAS
GONZÁLEZ REY, F. O compromisso Ontológico na Pesquisa
Qualitativa. In: ______. (Org.). Pesquisa
Qualitativa e Subjetividade: os processos de construção da informação. São
Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. p.1-28.
GONZÁLEZ REY, F. A pesquisa qualitativa como produção
teórica: uma aproximação diferente. In: ______. (Org.). Pesquisa Qualitativa e Subjetividade: os processos de construção da
informação. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. p. 28 – 78.
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